19 novembro 2006

Zé Fini

Há algumas décadas, a influência cultural francesa foi substituída pela estadunidense, aqui em terras brasileiras. A tal ponto que, hoje em dia, muitas palavras francesas presentes em marcas, nomes de lojas, pratos, etc, são pronunciadas como se fossem inglesas. E parece ser pequeno o interesse do brasileiro médio por outras línguas estrangeiras além do inglês.
Aqui não cabe juízo de valor com relação à superioridade de uma cultura em relação a outra. É certo que na época da influência francesa, a humanidade se preocupava mais com filosofia, literatura, ciências humanas em geral, enquanto hoje se preocupa mais com as artes visuais, sonoras e as maravilhas da técnica. Mas isso parece se dever mais a uma mudança cultural generalizada do que à metrópole cultural que passou a exercer influência sobre nós. Agora como dantes, com exceção de algumas áreas artísticas, notadamente a música e um certo tipo de literatura, continuamos na periferia da produção cultural mundial, mantendo uma mentalidade de colonizados e imitativa de outros pólos culturais, localizados sobretudo no hemisfério norte ocidental.
Hoje à tarde eu estava tomando um café no Regina e ouvi de novo alguém usar a expressão que deu título a este artigo. Tenho a impressão de que ela se popularizou a partir do quadro "Escolinha do Professor Raimundo", do Chico Anysio, há alguns anos. Muito embora não soubessem o que significava, seus espectadores achavam-na engraçada e passaram a repeti-la, com uma pequena corruptela sonora que transformou o [s] inicial em [z]. Da mesma maneira que se repetia o "somebody love" [sãm·bóri·lóv(i)] do personagem Rolando Lero.
A propósito: a expressão original era "C'est fini". Escreve-se dessa maneira, pronuncia-se [sέ finí] e significa "acabou".

Os mistérios universais

Um sujeito tem dois gatos em casa. Como os gatos preferem beber água fresca, ele teve a idéia de instalar uma fontezinha que jorra água quando ligada na tomada e apenas dá a impressão de que a água está sendo renovada. Quando desligada, a fonte apresenta um reservatório de água que também pode ser bebida pelos gatos.
O sujeito liga a fonte algumas vezes por dia, quando lhe dá na telha. Às vezes, os gatos bebem a água mesmo com a fonte desligada, mas, na maioria das vezes, ficam esperando a água começar a jorrar. Eles sabem que o dono tem algum papel no funcionamento da fonte, tanto que às vezes pedem para que ele faça a água cair, seja miando, seja subindo na borda da fonte e esperando. É possível perceber a curiosidade despertada nesses felinos pelo misterioso funcionamento de sua fonte de água.
Fico imaginando a dificuldade que seria para os gatos entenderem que uma pequena bomba de água, movida a eletricidade, suga a água que está embaixo, faz com que ela suba através de um tubinho e, depois, com que ela saia por dentro do pote que é sustentado pelos braços de um anjinho neoclássico e caia em cima de um pedestal móvel que não tem outra função senão evitar que a água respingue para fora da bacia.
Tudo isso é aparentemente simples para nós, mas não para os gatos. Às vezes nos comparo, os humanos, a esses gatos, quando pensamos nos mistérios do universo. Imaginem a nossa decepção se descobríssemos que o seu funcionamento, além de muito complexo para a nossa compreensão, apenas tivesse a função de nos manter vivos e fosse totalmente desprovido de um sentido maior. Talvez seja melhor mantermos nossas crenças e superstições, nelas incluídas a ciência e a religião.