Um sujeito tem dois gatos em casa. Como os gatos preferem beber água fresca, ele teve a idéia de instalar uma fontezinha que jorra água quando ligada na tomada e apenas dá a impressão de que a água está sendo renovada. Quando desligada, a fonte apresenta um reservatório de água que também pode ser bebida pelos gatos.
O sujeito liga a fonte algumas vezes por dia, quando lhe dá na telha. Às vezes, os gatos bebem a água mesmo com a fonte desligada, mas, na maioria das vezes, ficam esperando a água começar a jorrar. Eles sabem que o dono tem algum papel no funcionamento da fonte, tanto que às vezes pedem para que ele faça a água cair, seja miando, seja subindo na borda da fonte e esperando. É possível perceber a curiosidade despertada nesses felinos pelo misterioso funcionamento de sua fonte de água.
Fico imaginando a dificuldade que seria para os gatos entenderem que uma pequena bomba de água, movida a eletricidade, suga a água que está embaixo, faz com que ela suba através de um tubinho e, depois, com que ela saia por dentro do pote que é sustentado pelos braços de um anjinho neoclássico e caia em cima de um pedestal móvel que não tem outra função senão evitar que a água respingue para fora da bacia.
Tudo isso é aparentemente simples para nós, mas não para os gatos. Às vezes nos comparo, os humanos, a esses gatos, quando pensamos nos mistérios do universo. Imaginem a nossa decepção se descobríssemos que o seu funcionamento, além de muito complexo para a nossa compreensão, apenas tivesse a função de nos manter vivos e fosse totalmente desprovido de um sentido maior. Talvez seja melhor mantermos nossas crenças e superstições, nelas incluídas a ciência e a religião.
19 novembro 2006
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2 comentários:
Pois é. Ainda bem que somos incapazes de desvendar os mistérios do universo. Aí a gente transforma esse desvandamento em missão de vida...
Mas no fundo, no fundo, acho que o sentido da nossa vida no planeta deve ser algo bem perverso....
Carlão,
Por coincidência, acabei de escrever um texto falando sobre o mesmo assunto, só que eu fui menos generoso que você e usei amebas em vez de gatos.
O título é Brincando de Filosofar...
http://bigtigersplace.blogspot.com/2007/07/brincando-de-filosofar-i.html
Abraços,
Celso Alvares
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