Na semana passada foi anunciada uma das medidas mais esdrúxulas de que se teve notícia ultimamente. Após três anos de altas constantes dos preços do petróleo no mercado internacional, que fizeram disparar o preço da commodity de cerca de US$30 para cerca de US$110 o barril (ou seja, uma alta de 267%), o governo decidiu permitir que a Petrobras repassasse parte desse aumento ao consumidor. Até aí, nada de se estranhar, a não ser pela "generosidade" do aumento, de apenas pouco mais de 10%. O que causou espanto foi a preocupação do governo em evitar que esse aumento chegasse ao bolso de quem usa carro particular. Tudo vai aumentar: gás, óleo diesel e todos os derivados do petróleo. Com isso, aumentam também as tarifas dos transportes públicos e dos fretes, elevando, por exemplo, o preço dos alimentos. Graças à redução da Cide, imposto recolhido pelo governo, a única coisa que não vai aumentar é o preço da gasolina de quem anda de carro. Como os formadores de opinião praticamente só usam carro, o assunto passou batido e pouca discussão se vê na mídia. As conseqüências dessa medida, porém, serão o agravamento ainda maior das disparidades sociais, transferindo-se renda de quem está mais preocupado com o preço da comida ou do ônibus para os proprietários de automóvel particular.
Talvez não seja de se estranhar o contra-senso, considerando-se que o país já dá todo tipo de incentivo à produção, à compra e à utilização de automóveis particulares. O que chama a atenção é o discurso paradoxal de querer, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida nas cidades ou a distribuição de renda. Ou será que desistimos disso e eu não fiquei sabendo?!
05 maio 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário