Domingo passado foi o dia da "Marcha da maconha". Ou melhor, não foi. Paulatinamente, as justiças estaduais foram proibindo a marcha nas diversas capitais do país. A de São Paulo, prevista para ocorrer no Parque do Ibirapuera às 14h do domingo, foi proibida no sábado à noite.
Para mim parece óbvio que a discussão sobre a descriminalização das drogas no Brasil precisa ser feita o quanto antes. Mas assim como parece óbvio para mim, parece óbvio que não para muita gente. Óbvio ou não, o fato é que no domingo passado ocorreu um estupro da liberdade de expressão no país.
Diferentemente de outros lugares do mundo, onde a questão foi exposta por meio de manifestações, no Brasil ela foi abafada por decisões judiciais e presença ostensiva da polícia, sob alegações de apologia ao crime, dentre outras mais absurdas, como um suposto lobby do PCC e outras facções criminosas, que estariam por trás dos manifestos.
A questão fundamental é não confundir permissão com incentivo. Na situação atual, o consumo e a venda de drogas lícitas são não apenas permitidos como incentivados. Deveriam ser veementemente desestimulados. A permissão ao álcool e ao cigarro não acontece porque essas substâncias sejam saudáveis ou não causem problemas sociais. Muito pelo contrário; elas só são permitidas porque sua proibição causaria um transtorno social ainda maior. Relembre-se o período da Lei Seca nos EUA, com Al Capone e toda a máfia assumindo o comércio ilegal do álcool.
Já a questão das drogas atualmente ilícitas deveria seguir o mesmo caminho: continuar com campanhas de desestímulo ao uso, porém controlando-se a qualidade da droga, arrecadando-se impostos a serem investidos no aconselhamento e tratamento dos usuários, etc. Na situação atual, em que o consumo existe e o comércio é proibido, legitima-se hipocritamente o tráfico. Pergunta: a quem interessa esta situação? Quem ganha com o tráfico hoje e com toda a estrutura montada para o seu combate? Cada um encontre a sua própria resposta. Eu sei quem perde com ela: toda a sociedade, com a indecente taxa de criminalidade que assola o país.
Sobre a marcha que não aconteceu, recomendo estes links:
Um tapa na democracia
Paz sem voz no Estado de exceção
Advogado detido por apologia às drogas diz que vai recorrer até o STF
05 maio 2008
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